quarta-feira, 5 de março de 2008

TDAH NO ADULTO




A maioria das pesquisas mostram que, em média, 67% de crianças diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) continuam tendo os sintomas quando adultos, interferindo em sua vida acadêmica, profissional, afetiva e social. A avaliação precoce e o tratamento adequado podem reduzir os sintomas significativamente. Vale ressaltar a importância de avaliarmos o TDAH em adultos, revisando-se as preocupações atuais, avaliação do nível de funcionamento na infância e no adulto, história de vida detalhada, avaliação de história de adaptação psicossocial, diagnóstico diferencial e avaliação intelectual, de comorbidades e das funções executivas. O TDAH em adultos muitas vezes tem sido visto como uma doença camuflada, devido ao fato dos sintomas serem mascarados, ocorrendo problemas de relacionamento afetivo e inter-pessoal, de organização, problemas de humor, abuso de substâncias, ou seja, caracterizados pela comorbidade. Desta maneira, o diagnóstico se torna difícil e os adultos e, principalmente as mulheres, ficam sem diagnóstico e tratamento. Alguns sintomas observados com frequência no TDAH em adultos:
Eles podem apresentar dificuldades com relações afetivas instáveis (separações, divórcios); instabilidade profissional que persiste ao longo da vida; rendimentos abaixo de suas reais capacidades no trabalho e na profissão; falta de capacidade para manter a atenção por um período longo; falta de organização (carente de disciplina); insuficiente capacidade para cumprir o que se comprometem; incapacidade para cumprir uma rotina; esquecimentos, perdas e descuidos importantes; depressão e baixa auto-estima; dificuldades para pensar e se expressar com clareza; tendência a atuar impulsivamente e interromper os outros; dificuldades de escutar e esperar sua vez de falar; freqüentes acidentes automobilísticos devido à distração; freqüente consumo de álcool e abuso de substância. alguns sintomas apesar de não constarem no manual oficial dos transtornos mentais, DSM, sao vistos com frequência, tais como a baixa auto-estima; sonolência diurna (dormir como uma pedra); "pavio curto" (mistura de impulsividade e irritabilidade); necessidade de ler mais de uma vez para "fixar" o que leu; dificuldade de levantar de manhã, de se "ativar" no início do dia; adiamento constante das coisas; mudança de interesse o tempo todo; intolerância a situações monótonas e repetitivas; busca constante por coisas estimulantes ou diferentes e variações freqüentes de humor.
Dificuldades específicas da função de atenção: Adultos com TDAH apresentam uma tendência pronunciada de distração, esquecimento, repetições de erros, além de perderem coisas, não recordarem o que acabaram de ler, de necessitarem perguntar muitas vezes o mesmo e evitarem sistematicamente toda leitura que não seja do seu interesse específico. Geralmente envolvem-se em atividades de pouca atenção e concentração por apresentarem tais dificuldades. Isso não significa não prestar atenção nunca, mas em muitas ocasiões, ou na maioria delas a pessoa está dispersa, "no mundo da lua" (Mattos, 2003).
No trabalho, custam a se organizar, permanecer atentas e terminar uma tarefa. O tempo que necessitam geralmente é muito maior do que se espera e rendem mais quando estão sozinhos. Mostram dificuldades também com a memória de trabalho, que permite os processos de comparação, processamento e emissão de uma resposta correta. Adultos com TDAH não são críticos quanto a suas dificuldades de atenção e poucos se dão conta do problema. Isto acontece porque sempre foram dispersos e desatentos, erram repetidamente, perdem coisas, não recordam o que acabam de ler, necessitam perguntar várias vezes a mesma coisa e evitam leitura que não seja de seu interesse específico. E são capazes de dormir ou desligar diante de assuntos que não lhe interessam diretamente, indicando que são pessoas que padecem de um problema de atenção. Muitas vezes mostram uma clara dificuldade para conseguir o mínimo de concentração suficiente para manter qualquer atividade.
Ser detentor do diagnóstico de TDAH não significa que não preste atenção nunca, e, sim, que em muitas ocasiões, ou na maioria das vezes, o paciente está disperso. Em outros momentos, pode permanecer concentrado e ser constante numa tarefa. Mesmo que o problema seja crônico não quer dizer que esteja sempre presente. Isto remete ao que muitos autores colocam de que portadores de TDAH mostram a atenção flutuante: em determinados momentos são atentos e em outros não.

13 comentários:

romerito disse...

Sempre tive pavio curto... além disso, sempre tive dificuldade em me organizar quando tenho várias tareas...

A dispersão em TDAH, na minha opinião está ligada ao interesse no assunto. Não adianta querer prestar atenção se o TDAH está ouvindo determinado assunto por obrigação.

No meu caso, estou tomando a medicação há três meses e isso tem me ajudado bastante. Mas quando o assunto é chato ou então não concordo, tendo a ficar disperso... isso é uma questão de auto-controle e as vezes a medicação ajuda.

Anônimo disse...

Olá, Romerito, antes de mais nada, muito obrigada por postar nesse blog. certamente a sua colocação vai servir para muitos leitores.
- Sintomas ligados a falta de atenção concentrada, esquecimentos e desorganização para tarefas de baixa motivação são próprios do TDAH. Como sabemos, o TDAH cursa com lesões disfuncionais em áreas pré-frontais, responsáveis pelas funções executivas e pelos sistemas de recompensa. O TDAH não afeta os sistemas de recompensa imediata mas infelizmente vai afetar os de recompensa tardia, como é o caso do estudo de uma matéria difícil ou chata pra nós, ou qualquer coisa que puxe muito pela nossa cabeça, por exemplo. Por isso, o tratameto é tão importante, pois com o tratamento correto, você vai podendo melhorar a capacidade de se organizar e de prestar atenção e aprender coisas que você também não gosta tanto. As terapias para reforçar a resiliência são ótimas, nesses casos.
- Sintomas como irritabilidade, impaciência,oscilações de humor, pavio-curto, ocorrem pela inquietude e impulsividade do TDAH. O medicamento correto vai ajudá-lo bastante e com o decorrer do seu tratamento você vai constatar várias melhoras. Persista no tratamento e não desista. O sucesso pessoal muitas vezes decorre de um tratamento bem feito e orientado. Tudo de bom pra vc, e sempre que quiser, pode postar aqui, abs
Evelyn
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Espaço Vargem Grande de bem com a natureza!!! disse...

Parece uma receita de bolo... É impressionante como os sintomas são idênticos, gostei muito de te conhecer ,Dra. Evelyn e sei que agora a minha vida vai dar um "upgrade"!!!

Espaço Vargem Grande de bem com a natureza!!! disse...

Foi muito bom te achar e saber que não estou só e que minha vida pode dar um upgrade!

Unknown disse...

Oi, certamente... um abraço! Os estudos em neurociências, neuroimagem, neurofisiologia e neuropsicologia têm mudado drasticamente o modo de compreensão do TDAH!! e o tratamento farmacológico tem grande poder de eficácia!!
tudo de bom, e obrigada pela postagem!!
Evelyn Vinocur

vanessa disse...

olá,doutora,me identifico plenamente com todos os sintomas mas tenho medo de procurar ajuda;minha cabeça sempre foi muito confusa,já tive bulimia e fiz terapia por 3 anos,larguei faculdade,curso,tudo,deixo as coisas sempre pela metade,levei 4 anos pra entrar em outra faculdade pq ficava sempre tão confusa,queria uma coisa e depois não queria mais,e agora quero largar de novo,não consigo prestar atenção em nada e fico adiando todas as tarefas,minha desorganização ultrapassou todos os limites,mas mesmo assim tenho medo de estar inventando uma desculpa para a minha falta de força de vontade e indisciplina.O fato é que sinto que nunca realizei nem vou realizar nada,mesmo tendo todas as oprtunidades.Tenho acesso completo a psiquiatra e neurologista,amigas da família,mas muita vergonha de procurar ajuda.

Unknown disse...

Oi, Vanessa, o TDAH é uma condição neurobiológica, bastante difundida e valiada cientificamente. Um dos maiores problemas que eu acho que tudo isso gera é um progressivo comprometimento das funções executivas e auto-regulação das emoções, controle dos impulsos e do gerenciamento do tempo. E o medicamento específico tem um alto poder de eficãcia. Assim, não tem porque não se tratar. Procure um psiquiatra de sua confiança e converse com ele. Sucesso pra você!!
abraços
Evelyn

Unknown disse...

Oi Evelyn!
Como é bom encontrar um glog como o seu. Tenho 47 anos de idade, um filho tdah e me descobri tdah nesta semana (sempre desconfiei, mas nunca encarei os fatos de frente). Grandes transformações, mas muito para aprender sobre tdah em adultos: muito para me compreender, muito para aprender, muito para administrar, e para isso tudo estou explorando seu blog.
Estou muito feliz por perceber isso e ter uma nova oportunidade após o diagnóstico e início de tratamento - que é eficiente desde o primeiro dia - e muito triste por ter passado por tantas dificuldades durante uma vida toda e ter infernizado a vida de esposa, familiares, filho (também tdah, que não sabia compreender).
Obrigado pela iniciativa...

Unknown disse...

Dirceu,
fico muito feliz por você ter "deixado de apanhar no escuro", digamos assim. Você tem a vida pela frente para vivê-la de um modo um pouco diferente, daqui pra frente. Certamente, será uma vida melhor, com mais sossego, mais qualidade e mais controle e planejamento. Bom para o seu filho, você vai poder passar pra ele o que vai experimentar daqui pra frente e o que pode e vale a pena ser mudado. Parabéns e continue nos visitando e dando o seu depoimento pois é através de depoimentos como o seu que outras pessoas se encorajam e partem para procurar diagnósticos mais acertados. Grande abraço!!
Evelyn

Anônimo disse...

Alguns sintomas reconheço que tenho, Tais como: instabilidade profissional ao longo da vida; falta de capacidade para manter a atenção por um período longo(só quando a coisa me interessa e está chata); falta de organização (carente de disciplina);incapacidade para cumprir uma rotina (as rotinas geralmente são chatas e sem criatividade; esquecimentos, descuidos importantes; depressão e baixa auto-estima (esses eu não sei dizer); dificuldades para pensar(acho até que penso demais, porém com uma velocidade incrivel a ponto de não saber se realmente pensei naquilo) e se expressar com clareza (acredito que isso ocorra devido a velocidade do raciocínio); tendência a atuar impulsivamente e interromper os outros(ocorre com muita frequência, pois é chato espera a pessoa concluir algo que voce já entendeu); dificuldades de escutar e esperar sua vez de falar(isso não ocorre comigo, pois, me desligo e não escuto o que estão falando); freqüentes acidentes automobilísticos devido à distração( os acidentes não ocorrem, mas, que me distraio nos meus pensamentos, isto sim); durmo como uma pedra; pavio curto, já fui bem mais (mistura de impulsividade e irritabilidade); necessidade de ler mais de uma vez para "fixar" o que leu (preciso ler várias vezes); dificuldade de levantar de manhã, de se "ativar" no início do dia (isso nunca tive, sempre já levanto elétrico); adiamento constante das coisas( isso também não tenho, até porque sei que se não fizer naquele momento vou esquecer); mudança de interesse o tempo todo(aco que isso não tenho); intolerância a situações monótonas e repetitivas( com certeza tenho isso); busca constante por coisas estimulantes ou diferentes e variações freqüentes de humor(isso não sei dizer); não recordarem o que acabaram de ler, de necessitarem perguntar muitas vezes o mesmo e evitarem sistematicamente toda leitura que não seja do seu interesse específico (tenho isso com certeza;.No trabalho, custam a se organizar e rendem mais quando estão sozinhos. Mostram dificuldades também com a memória de trabalho, que permite os processos de comparação, processamento e emissão de uma resposta correta.
Em suma: Acho que não mereço tudo isso!!!! E às vezes fico com pena de mim mesmo.

Um abraço

Luiz Farias

Unknown disse...

Luis
É muito chato quando a gente não está muito feliz com a vida que se leva e vai levando a vida ou por achar que a vida é assim mesmo, ou por achar que a gente é assim mesmo ou até achar porque nessa vida eu tinha que passar por isso, etc.
Você listou uma série de sintomas que precisam ser contextualizados à sua vida, para que possamos ver o grau de prejuizo funcional que tudo isso te causa ou seja, o grau de limitações que vc tem por causa dos sintomas listados por vc.
É fundamental que vc seja avaliado por um especialista em tdah. Um diagnóstico diferencial e comorbidades precisam ser avaliadas. A história familiar também. O site da ABDA - associação brasileira de déficit de atenção é confiável e você deveria mandar um email pra lá pedindo orientação de um especialista para vc se consultar. Faça isso logo, pois os tramentos são eficazes e uma terapia complementar seria muito bom para o seu auto conhecimento e elevar a sua auto-estima. Não tenha pena de você. Respire fundo e vá à luta, uma luta pela sua própria causa, pela sua liberdade de vida, livre de grande parte dos sintomas... Boa sorte, aguardo notícias, se precisar de mim, estarei por aqui.
abs
evelyn

Anônimo disse...

Oi dra Evelyn,

Irritabilidade, pavio curto, instabilidade profissional e afetiva, baixa auto-estima, sonolência diurna, fico aérea quando o assunto não é de meu interesse, sinto uma preguiça mental, quando estou lendo perco minha atenção com facilidade e necessito retomar o assunto. Mas o único sintoma que apresentei quando criança era a irritabilidade e o pavio-curto, os demais só apareceram ou se evidenciaram após a adolescência, quando meu pai foi vítima de um AVC.
Apesar de eu me identificar com as características do TDA, fiquei em dúvida, pois apresentei grande parte do sintomas após a adolescência. Hoje tenho 32 anos e gostaria de viver melhor, menos estressada!!!

um abraço e muito obrigada por dividir seus conhecimentos
Gabi

Unknown disse...

Oi, Gabi, na verdade você apresentou sintomas do TDAH na infância. É que o TDAH é multidimensional e tem sub-tipos e você aprensentou sintomas do tipo hiperativo-impulsivo, que muito bem justifica você procurar um especialista para se tratar. Os sintomas de desatenção, muitas vezes só ocorre em idade mais avançada, quando as pressões da vida aumentam muito.
Um grande abraço,
Evelyn Vinocur