quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Efeito Colateral do metilfenidato no crescimento estatural e peso


A estatura do sujeito é um dado importante e com grande poder de influência no desenvolvimento psicossocial do ser humano. Assim, possui alto potencial de interferência na dinâmica social em todas as idades, participando da formação da auto-imagem e do desempenho social, sendo uma preocupação comum dos pais, da criança e do próprio indivíduo quando adulto. A motivação por parte da autora para a realização deste estudo surgiu ao longo de sua vivência profissional, atendendo inúmeras crianças portadoras de transtornos mentais. Não raro, ao longo desse tempo, a autora se deparou com várias queixas e inquietações trazidas por pais de crianças portadoras de TDAH no referido estabelecimento, quanto à observação de que seus filhos estavam crescendo pouco ou quase nada, em relação a seus pares ou mesmo em relação aos outros filhos do casal.O TDAH é variavelmente definido como um distúrbio do comportamento (MERCUGLIANO, 1999), um distúrbio psiquiátrico (CASTELLANOS, 1997), uma síndrome neuropsiquiátrica (GOLDMAN et al., 1998), um distúrbio do desenvolvimento (CONNERS, 1999), ou um distúrbio do neurodesenvolvimento (BROWN et al., 2001). As diferenças, muitas vezes sutis, encontradas nas definições de diversos autores, denunciam o desconhecimento da causa e da fisiopatologia do TDAH. Sabe-se, porém, que sua apresentação clínica compreende três categorias principais de sintomas – desatenção, impulsividade e hiperatividade – os quais devem se manifestar em mais de um ambiente (casa, sala de aula e clínica) e serem incompatíveis com a idade cronológica e mental da criança, causando algum grau de comprometimento funcional (MERCUGLIANO, 1999). Sabe-se também que o TDAH começa no início da vida e pode persistir na adolescência e idade adulta (CONNERS, 1999) em mais de 70% dos casos não tratados.O tratamento é multidisciplinar, embora fundamentalmente medicamentoso, dada a condição neuroquímica do TDAH. No Brasil, o tratamento é realizado com o metilfenidato, da classe dos psicoestimulantes, considerado a droga-ouro no tratamento do TDAH e aprovado pelo FDA e ANVISA para uso em crianças a partir de seis anos de idade (MTA COOPERATIVE GROUP 1999; YANG et al., 2006).A eficácia do metilfenidato para o tratamento do TDAH é evidenciada por todos os estudos científicos, encontrando uma redução estatística e clinicamente significativa dos sintomas do transtorno e melhora do funcionamento em vários aspectos (ANDERSEN et al., 2008). Apesar disso, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vem gerando, ao longo dos anos, uma série de mitos e crenças falsas na população mundial. Não raro vemos a imprensa leiga, ou grupos isolados de pessoas levantando as mais diversas dúvidas e fazendo sérias acusações tanto sobre o TDAH bem como em relação ao metilfenidato e seus efeitos em crianças portadoras. Freqüentemente vemos noticias em jornais, na Internet e em artigos desprovidos de fundamentação cientifica, afirmando que o TDAH é um modismo, uma doença criada por laboratório para vender remédio. Afirmações de todo tipo ocorrem, como a de que o metilfenidato tiraria a espontaneidade da criança, fazendo com que elas ficassem um robozinho obediente e sem vontade própria, ou viciada no remédio desde cedo, etc.Não existe um consenso na literatura sofre o efeito causado pelo uso dos estimulantes no tratamento de crianças com TDHA. CHARACH et al (2006) atribuem essa controvérsia as diferentes dosagens utilizadas nas pesquisas realizadas. Estudos que observaram redução na taxa de crescimento podem ter usado doses mais elevadas do psicoestimulante, sugerindo que os estudos que não descreveram nenhum efeito sobre o crescimento poderim ter utilizado doses mais baixas, podendo ainda o tamanho da amostra ter influência sobre os resultados.Uma questão que vem sendo causa de persistente preocupação por parte de diferentes autores, é o potencial do metilfenidato em causar redução nos níveis esperados de peso e altura ao longo do desenvolvimento do sujeito (POULTON, 2005; SWANSON et al., 2006; FARAONE et al., 2008; VITIELLO, 2008).Embora possam produzir redução do apetite e perda de peso, o efeito dos psicoestimulantes no crescimento estatural de crianças com TDAH é menos compreendido e ainda um ponto indefinido, não existindo ainda um consenso. Enquanto estudos iniciais sugeriam que havia persistente diminuição no crescimento associado ao uso dessas drogas, atualmente esta posição não é mais aceita já que nem todos outros estudos confirmaram esses dados (ELIA et al., 1999).Diferentes estudos sugerem que o déficit de crescimento em crianças com TDAH é decorrente de retardo temporário no tempo de crescimento, ainda que não comprometendo a estatura final do sujeito. Existem estudos relacionando este atraso de crescimento ao próprio TDAH e não pelo uso do metilfenidato (BIEDERMAN et al., 2003; ZEINER, 2002).Em pesquisa recente, Farone et al., (2008) apresentam diferentes mecanismos que poderiam explicar o déficit de crescimento causado pelo uso de estimulantes. Dentre eles, os autores citam os efeitos dessa medicação sobre o fígado, fatores de crescimento e efeitos diretos sobre cartilagem. Justificam que os efeitos a curto prazo da medicação poderia ser causado pela desregulação dos receptores de qualquer nível do sistema de crescimento, enquanto que a adaptação destes receptores poderia explicar a inibição do crescimento a longo prazo.

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