domingo, 20 de julho de 2008

Médicos alertam para o TDAH de ADULTOS


Reconhecido mais facilmente em crianças e adolescentes, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, distúrbio neuropsiquiátrico conhecido pela sigla TDAH, vem sendo diagnosticado a cada dia em maior número de pessoas adultas.
Dificuldades em manter a atenção e a concentração, descuido em atividades, inquietude e falta de organização são alguns dos sintomas clínicos mais comuns do TDAH registrados em adultos, segundo o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr).

Em entrevista concedida ao Correio do Estado, MS, caderno B, 09/07/2007, Antônio Geraldo afirma que "entre 60% e 80% dos casos deste tipo de síndrome diagnosticados na infância prevalecem na fase adulta", e acrescenta que uma média de 11% das crianças que sofrem de hiperatividade tem um dos pais diagnosticados com TDAH. Conforme disse, estima-se que 4% dos adultos possam sofrer do transtorno. Além dos sintomas citados, estudos comprovam que os portadores do transtorno se envolvem em mais acidentes de trânsito que os demais, explica o Dr. Paulo Mattos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em entrevista ao Correio do Estado, MS, 2007. "Quando os acidentes ocorrem com adultos diagnosticados com a síndrome, eles tendem a ser mais graves, indicando que o transtorno está relacionado à falta de atenção de forma a colocar em risco a vida das pessoas, portadoras ou não do TDAH", afirma Paulo Mattos.
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), a ocorrência do TDAH não está atrelada a fatores culturais, ou como resultado de conflitos psicológicos. De acordo com eles, a explicação está em pequenas alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do controle da concentração.
Segundo a Dra. Evelyn Vinocur, especialista em psiquiatria de adultos e neuropsiquiatra em saúde mental da infância e adolescência, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem reduzir significativamente o impacto adverso causado pelos sintomas do TDAH em todos os setores da vida da pessoa, seja a nível social, afetivo, acadêmico ou laborativo. Para tanto, é essencial uma avaliação do nível de funcionamento na infância, adolescência e na vida adulta, história de vida detalhada, avaliação da história de adaptação psicossocial, avaliação cognitiva, sempre pensando nos possíveis diagnósticos diferenciais e presença de comorbidades.
O TDAH em adultos muitas vezes tem sido visto como uma doença camuflada, devido ao fato dos sintomas se internalizarem, ficando “mascarados”, dificultando muitas vezes que o especialista perceba a presença de problemas de relacionamento afetivo e interpessoal, de organização, problemas de humor, abuso de substâncias, ou até mesmo a presença de comorbidades.
Desta maneira, o diagnóstico pode se tornar difícil e os adultos e, principalmente as mulheres, ficarem sem diagnóstico e tratamento por muitos anos.
Outros sintomas observados com com maior freqüência no TDAH em adultos (quando comparados a pessoas sem o transtorno):
- Eles costumam apresentar dificuldade nos relacionamentos, com relações afetivas instáveis (separações, divórcios);
- instabilidade profissional que persiste ao longo da vida;
- rendimento abaixo de suas reais capacidades no trabalho e na profissão; -
- falta de capacidade para manter a atenção por um período longo;
- falta de organização (carente de disciplina);
- insuficiente capacidade para cumprir o que se comprometem; incapacidade para cumprir uma rotina; - esquecimentos, perdas e descuidos importantes;
- depressão e baixa auto-estima;
- dificuldades para pensar e se expressar com clareza;
- tendência a atuar impulsivamente e interromper os outros;
- dificuldades de escutar e esperar sua vez de falar;
- freqüentes acidentes automobilísticos devido à distração;
- freqüente consumo de álcool e abuso de substância.
Alguns sintomas apesar de não constarem no manual oficial dos transtornos mentais, DSM, são vistos com freqüência, tais como:
- baixa auto-estima;
- sonolência diurna (dormir como uma pedra);
- "pavio curto" (mistura de impulsividade e irritabilidade);
- necessidade de ler mais de uma vez para "fixar" o que leu;
- dificuldade de levantar de manhã, de se "ativar" no início do dia;
- adiamento constante das coisas;
- mudança de interesse o tempo todo;
- intolerância a situações monótonas e repetitivas;
- busca constante por coisas estimulantes ou diferentes e variações freqüentes de humor.
Dificuldades específicas da função de atenção: Adultos com TDAH apresentam uma tendência pronunciada de distração, esquecimento, repetições de erros, além de perderem coisas, não recordarem o que acabaram de ler, de necessitarem perguntar muitas vezes o mesmo e evitarem sistematicamente toda leitura que não seja do seu interesse específico. Geralmente envolvem-se em atividades de pouca atenção e concentração por apresentarem tais dificuldades. Isso não significa não prestar atenção nunca, mas em muitas ocasiões, ou na maioria delas a pessoa está dispersa, "no mundo da lua”.
No trabalho, custam a se organizar, permanecer atentas e terminar uma tarefa. O tempo que necessitam geralmente é muito maior do que se espera e rendem mais quando estão sozinhos. Mostram dificuldades também com a memória de trabalho, que permite os processos de comparação, processamento e emissão de uma resposta correta. Adultos com TDAH não são críticos quanto a suas dificuldades de atenção e poucos se dão conta do problema. Isto acontece porque sempre foram dispersos e desatentos, erram repetidamente, perdem coisas, não recordam o que acabam de ler, necessitam perguntar várias vezes a mesma coisa e evitam leitura que não seja de seu interesse específico. E são capazes de dormir ou desligar diante de assuntos que não lhe interessam diretamente, indicando que são pessoas que padecem de um problema de atenção. Muitas vezes mostram uma clara dificuldade para conseguir o mínimo de concentração suficiente para manter qualquer atividade.
Ser detentor do diagnóstico de TDAH não significa que não preste atenção nunca, e, sim, que em muitas ocasiões, ou na maioria das vezes, o paciente está disperso. Em outros momentos, pode permanecer concentrado e ser constante numa tarefa. Mesmo que o problema seja crônico não quer dizer que esteja sempre presente. Isto remete ao que muitos autores colocam de que portadores de TDAH mostram a atenção flutuante: em determinados momentos são atentos e em outros não.
O tratamento indicado pela ABDA é o multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação da família e acompanhamento profissional, pelo médico e também através da psicoterapia. Para o Dr. Paulo Mattos, a medicação é imprescindível e tem comprovação científica de eficácia no tratamento. "Pesquisas feitas com simuladores de direção mostram que adultos que sofrem do transtorno cometem mais erros que os normais. Também foi descoberto que estes erros tendem a ser diminuídos com a administração de remédios específicos", explica.
Além da medicação, o psiquiatra Antônio Geraldo explica que alguns fatores podem ajudar no cotidiano de pessoas que sofrem do transtorno, como o cumprimento de uma atividade por vez, evitando assumir muitas responsabilidades ao mesmo tempo, estabelecimento de prioridades e até realização de atividades físicas ao longo do dia ou da semana, que ajuda a manter o equilíbrio nas demais atividades do dia, especialmente as obrigatórias e/ ou chatas.
Nas mulheres :
No sexo feminino, os sintomas do TDAH aparecem de forma marcante através da desatenção, e não da hiperatividade e impulsividade, mais evidentes no sexo masculino. Além disso, elas são freqüentemente menos rebeldes e menos opositivas. Como a comorbidade com os transtornos de ansiedade e depressão são os sintomas mais freqüentes, as mulheres costumam ter uma instabilidade emocional importante, com possibilidades de freqüentes mudanças de humor.

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